terça-feira, 25 de setembro de 2007

Em favor da vida

Acima, fotos de Toscani para a Campanha da Nolita
(Reuters)
Uma campanha publicitária incomoda o mundo fashion. Trata-se da campanha do italiano Oliviero Toscani para a Nolita. Toscani é famoso pelas polêmicas campanhas nos anos 80 e 90 para a Benetton, que abordavam temas como Aids, guerra e racismo. A campanha atual do fotógrafo pode vir a ser, segundo ele, "... o começo de um novo ciclo de publicidade", já que expõe a modelo francesa Isabelle Caro (26 anos), pesando pouco mais de 30 quilos, estampando as fotos da marca Nolita durante a Semana de Moda de Milão. A modelo, que porta anorexia há 15 anos e já pesou menos do que atualmente, resolveu aderir à campanha.
A idéia é despertar a atenção para o problema da anorexia ou até mesmo uma resistência às exigências do padrão estético que elege mulheres anoréxicas como ideal de beleza. A exigência ou palavra de ordem fashion acabou por ultrapassar as fronteiras do mundo fashion e acometer milhares de pessoas no mundo todo, que atualmente sofrem e morrem de anorexia, principalmente as meninas entre 11 e 13 anos, idade preferida pelos profissionais de moda para a captura de modelos.
Os recentes protestos em Londres e Madri contra essa exigência, praticamente impossível de se atingir, ganham agora o apoio de um dos mais renomados fotógrafos da atualidade. Campanha de difícil aceitação por parte da mídia em geral, cuja foto foi recusada pelo principal jornal italiano, Corriere della Sera, apesar da adesão de alguns estilistas.
Toscani procura um novo tipo de campanha, que vai na contramão da publicidade e da moda, que exibem corpos esquálidos com uma proporção de cerca de 20 quilos a menos do que sua estatura. Essa proporção é praticamente impossível para qualquer mortal manter sem recorrer ao uso de laxantes e outras drogas que inibem o apetite e trazem uma série de conseqüências negativas ao organismo, podendo levar à morte. Toscani busca, nessa campanha, se aproximar da "condição humana" já que, segundo ele: "Toda a publicidade de moda, as revistas e os jornais de moda, se afastaram dela, se tornaram abstratas, esvaziaram o ser humano. A gente olha essas campanhas e vê o vazio, e dizemos a nós mesmos: essas pessoas são como garrafas vazias [...] [...] Não são tantos os clientes que possuem a coragem de fazer uma campanha como esta".
O que poderia ser somente uma jogada de marketing, já que, segundo o fotógrafo: "Todos pensam que a comunicação publicitária deve ser falsa ou artificial, mas eu acho que se pode fazer algo interessante e tirar vantagens econômicas ao mesmo tempo”, também convida ao que podemos chamar de ato de resistência ou combate a esse estranho mundo, que vigora sob o signo da crueldade. Mundo capitalista que explora e lucra com as mazelas humanas, onde o ideal de beleza é um misto de corpos doentes e mumificados.

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