Tal resistência faz parte do abrangente projeto dos sócios, que integra as livrarias às exposições de arte, filmes, debates, conferências, lançamentos de livros, que aconteciam nos antigos endereços das livrarias e que agora ganharam um território maior: as doze salas onde outrora se produziam armas de guerra e que doravante recebem nomes de escritores e pensadores.
A batalha que se trava hoje nesta antiga fábrica de armamentos, desativada na década de 90, é outra: não se trata de manter o que é tradicionalmente conhecido por cultura, mas sim de criar uma alternativa àqueles que não acreditam mais na cultura, pois como afirma o Professor Nuno: “Todas as alternativas já foram integradas pela chamada 'cultura'. E esta livraria é feita justamente para os que já estão cansados dessa tal 'cultura'...”. Nessa máquina de guerra nômade montada pelos dois sócios, o que se respira são livros, obras de arte, além de filmes, performances, espetáculos de dança, teatro, música e poesia.
Tal máquina encanta a todos os que por ali circulam e que já se habituaram com as freqüentes mudanças de endereço das livrarias. A livraria Eterno retorno se encontrava, inicialmente, na Rua de S. Boa Ventura (2001 - 2005), depois se mudou para a Experimenta design (Palácio de Sta. Catarina, Set/ Out - 2005) e posteriormente passou a ser na Rua da Barroca (Galeria Zé dos Bois), após se fundir com a Ler devagar. A partir daí, as duas livrarias se mudaram para a Rua da Rosa (Jan-Junho de 2007), e atualmente se encontram na Fábrica de Braço de Prata.
A resistência ao encerramento de um projeto desse porte levou os sócios a aceitar voluntários que reconheceram o esforço deles nesse empreendimento. Parte dessa resistência compreende a oportunidade que as pessoas têm, nessa fábrica, de encontrar uma variedade de livros nas áreas das ciências humanas, literatura, poesia, cinema, teatro, filosofia, fotografia, design, artes plásticas, arquitetura e dança.
Nessa "condição pré-apocalíptica", como define o Professor Nuno, algumas pessoas pensam que se trata de uma performance, já que o território das livrarias ainda não foi definido, pois o contrato que eles mantêm com a fábrica é o de comodato, no qual eles podem usufruir das doze salas desde que cuidem da manutenção da fábrica.
A livraria navega no melhor estilo da tradicional nau portuguesa que, eternizada nos versos de Camões: "Partia alegremente, navegando,/ a ver as naus ligeiras Lusitanas..." (Os Lusíadas). Todavia nessa aventura do espírito, essa máquina, ou nau nômade, além da conquista de um território, sobretudo, resiste à cultura dominante e cria algo novo.
Durante esse fim-de-semana e na próxima sexta-feira (dia 31) na Fábrica braço de prata haverá uma homenagem aos cineastas Michelangelo Antonioni (1912-2007), com a exibição de Blow up, e Ingmar Bergman (1918-2007) - A fonte da donzela e terá ainda concertos de música. Para conferir a programação completa e o endereço, acesse: Fábrica braço de prata. A Fábrica funciona de 5ª a sábado, das 20h às 2h, domingo das 16h às 22h. Tel: 21868105
Acima, detalhes das fotos, extraídas do site da cadeia de televisão portuguesa SIC, da livraria e dos sócios Nuno Nabais e José Pinho. Fotos de Um olhar a cada dia. Para ver a reportagem com o vídeo, acesse: Projeto cultural "de alterne".
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