

Nas fotos ao lado, detalhes dos ambientes produzidos pelas intervenções de Brigida Baltar (Passagem secreta), Claudia Bakker (Primavera noturna), e Marta Jourdan (Zona de lançamento). Fotos Um olhar a cada dia.

Foi inaugurada nesta quarta-feira a coletiva de Brigida Baltar, Claudia Bakker e Marta Jourdan na Fundação Eva Klabin. A coletiva faz parte da 6ª edição do Projeto Respiração, que tem por objetivo a intercessão entre a arte contemporânea e o acervo permanente da Fundação, com a curadoria de Marcio Doctors. As artistas produziram intervenções em alguns ambientes da casa, proporcionando diferenciações nos espaços.
A sala de jantar, com seu mobiliário medieval, ganhou ares contemporâneos a partir dos tentáculos cor-de-rosa, feitos de tecido, que atravessam a mesa colonial mineira e se dirigem até o cômodo contíguo, onde se escuta o som pop de Young folks de Peter, Bjorn & John (2006). Esses tentáculos remetem a um rizoma ou raiz, que não se sabe onde começa ou termina, mas se estende pelo meio, sem centro de unificação, princípio de multiplicidade no qual os nós se ramificam e se reconectam com outras partes do rizoma ou tentáculo. O rizoma ou tentáculo não se reveste de nenhuma forma ou moldagem constituída e dada, mas remete a uma ausência de forma ou, se preferirmos, a um estágio pré-formal. Nesse sentido, Bakker atinge o informal puro. O cômodo é simultaneamente escurecido e iluminado pela cor rosada da Primavera noturna, que traz uma leveza ao ambiente normalmente austero, contrastando com a música pop tocada. O tom rosa dos tentáculos se diferencia da luz rosada, por uma justaposição, e sobressalta aos olhos, sutil nitidez, uma luz que solicita mais do que a função puramente óptica da visão na qual a modulação dos tons cria uma nova função, háptica, ou se preferirmos, tátil, da percepção visual. A sensação háptica da visão, enaltecida pela cor dos tentáculos e pela luz rosada noturna, sobressalta aos olhos através da cor, como se os olhos, e não as mãos, tocassem e tateassem as gradações de luz. Há um toque do olho, como na arte egípcia do baixo-relevo, mas na modernidade da arte de Bakker é pela cor que a artista atinge o háptico, a cor que sobressai da modulação da luz. O colorismo, o sentido das cores, proporciona a sensação da visão háptica, através de um toque, uma gestualidade da visão que toca a cor. Bakker é uma grande colorista, os tentáculos, ou rizoma, atingem a sensação colorante em estado puro.
As "passagens secretas" de Baltar são produzidas a partir da extração do pó de tijolo. Escavações são feitas em paredes para obter o pó de tijolo que constitui o material utilizado pela artista. A partir disso, rugas ou estriamentos são erguidas nos espaços lisos da parede, do piso e da pia, mas também erige-se um muro de tijolos que delimita os territórios ou a Passagem secreta entre o Hall Principal e a Sala Renascença. Somos conduzidos diretamente ao séc. XVI quando nos deparamos com o quadro de Povost (1510), onde a artista faz uma composição visual que parte da parede e nos transporta para dentro do quadro, numa intercessão desses dois momentos do tempo, intempestividade pura, coexistência virtual de passado e futuro. Verdadeiras moldagens também são criadas no estriamento da pia e do piso; a camada enrugada da pia se compõe com o papel de parede do toalete.
A Zona de lançamento, intensa maquinação das águas, de Jourdan, é feita a partir de gotas d'água que escorrem no retroprojetor e produzem imagens em movimento. As imagens dessas gotas são ampliadas nas paredes, iluminando todo o ambiente. Imagens cristalinas, obtidas pelo efeito da água no projetor, escorrem pelas paredes. Acima da cama barroca, a projeção dessas imagens forma verdadeiros quadros móveis, que a cada instante se superpõem quando novas gotas d'água escorrem no retroprojetor, resultando em uma variação contínua das imagens.
A exposição ficará na Fundação até 05 de agosto de 2007 (de quarta a domingo, das 14 às 18h). Maiores informações: http://www.evaklabin.org.br/; tel(021)3202-8550.
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